Não, não estamos falando de futebol, nem da aguardada recuperação da economia. Estamos falando da Amazon, que, se fosse um país, seria a 50ª maior economia do mundo, com faturamento de 233 bilhões de dólares em 2018, comparável ao PIB de Portugal (fonte: Amazon e FMI).
O lançamento da Amazon Prime no Brasil (em 10 de setembro) causou estrago: as ações do Magazine Luiza, B2W, Lojas Americanas e Via Varejo sofreram perdas acumuladas entre 4,8% e 10,5% em dois pregões (Estadão).
O Amazon Prime oferece frete grátis, acesso ilimitado ao streaming de vídeos e músicas, além de outras vantagens. O lançamento, mais do que os benefícios oferecidos, mostra que a gigante do varejo online deve abandonar o perfil discreto que vem mantendo no Brasil.
A defesa da concorrência lida com prejuízos que determinada empresa pode causar aos consumidores. Em primeiro plano encontra-se a preocupação com aumentos de preços, cuja viabilidade está associada diretamente, simplificando, com a participação de mercado detida pela empresa.
A Amazon, porém, tem a reputação mundial de praticar preços baixos. Apesar de seu gigantismo, a empresa parece não abusar de seu poder de mercado na forma de preços elevados. Ao contrário, a Amazon frequentemente é acusada de praticar preços predatórios, como forma de empurrar os concorrentes para fora do mercado. Nesta vertente sugere-se a leitura de Lina Khan. “Amazon’s Antitrust Paradox”. The Yale Law Journal (126:3), 2016.
Mas o antitruste não limita sua atenção aos consumidores. Ainda que em segundo plano, encontra-se a preocupação com os fornecedores, ou seja, com a possibilidade de compressão abusiva das margens de lucro nas vendas realizadas para uma empresa com elevado poder de compra, de barganha ou de monopsônio.
Sobre este temor, que do nosso ponto de vista é mais fundamentado no caso da Amazon, vale a observação de Paul Krugman, feita já em 2014 (“Amazon’s Monopsony Is Not O.K.”. The New York Times, 19/10/2014): “So far Amazon has not tried to exploit consumers. In fact, it has systematically kept prices low, to reinforce its dominance. What it has done, instead, is use its market power to put a squeeze on publishers, in effect driving down the prices it pays for books […] In economics jargon, Amazon is not, at least so far, acting like a monopolist, a dominant seller with the power to raise prices. Instead, it is acting as a monopsonist, a dominant buyer with the power to push prices down.”
Em sentido amplo, a sociedade (o coletivo dos indivíduos) sempre paga um preço pela destruição das formas pretéritas de organização dos mercados. Parafraseando Clemenceau (1841-1929), para quem a guerra é importante demais para ser deixada nas mãos dos militares, a arbitragem de “conflitos distributivos” desta natureza (entre aspas porque os interesses vão além da renda dos chamados “agentes econômicos”) ultrapassa os limites da defesa da concorrência.
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